Este boato circulou recentemente na Internet, como um alerta proveniente de um médico de algum hospital de renome. Pesquisas recentes teriam identificado o lauril sulfato de sódio, um ingrediente presente em várias marcas de xampu, como um agente cancerígeno. Este boato começou a circular nos Estados Unidos em meados de 1998, chegando ao Brasil algum tempo depois.
O lauril sulfato de sódio (ou um composto semelhante, o lauril éter sulfato de sódio) realmente é um ingrediente usado não somente em xampus, mas também em vários outros produtos cosméticos de limpeza, como pastas de dente, antissépticos bucais e sabonetes líquidos, por sua ação espumante e emulsificante (que facilita a remoção de óleos e gorduras). O lauril sulfato de sódio também pode ser utilizado como aditivo em determinados tipos de alimentos, sendo este uso regulado nos Estados Unidos por normas da Food and Drug Administration, e como ingrediente inerte na formulação de medicamentos (vários exemplos podem ser encontrados na página da FDA utilizando-se uma busca com o termo "lauryl sulfate").
Este composto é irritante, sendo geralmente usado em pequenas concentrações. Deve ser evitado seu contato com os olhos e sua ingestão. Entretanto, não existe nenhum estudo científico que estabeleça uma ligação de causa e efeito entre o lauril sulfato de sódio e qualquer tipo de câncer. A única relação existente entre esta substância e câncer é o fato de que o lauril sulfato é freqüentemente empregado para solubilizar substâncias utilizadas em testes de câncer, antes de sua injeção nas cobaias. Além disso, se existisse alguma evidência concreta comprovando esta relação, seria necessária uma conspiração de enormes proporções para ocultar um efeito tão grave de uma substância tão largamente empregada.
A origem deste boato pode estar relacionada a um incidente ocorrido na década de 70, quando foi identificada uma contaminação por nitrosaminas (que realmente são carcinogênicas) em produtos cosméticos. Esta contaminação pode ser originária da contaminação das matérias-primas empregadas ou de reações entre os próprios ingredientes do produto, após sua produção. Aparentemente, naquela ocasião a origem das nitrosaminas estava relacionada à contaminação do suprimento de lauril sulfatos, sendo o problema corrigido pelos fabricantes. Ainda assim, algumas fontes alegam que o lauril sulfato participa das possíveis reações de formação das nitrosaminas. Entretanto, o risco de formação de nitrosaminas está associado, na verdade, à presença de aminas ou seus derivados (especialmente di- ou trietanolamina), juntamente com outro ingrediente ou contaminante que atue como um agente nitrosante, o que não é o caso do lauril sulfato. Este tipo de contaminação continua sendo alvo de fiscalização por parte de autoridades reguladoras dos Estados Unidos e Europa.
Coincidência ou não, uma boa parte das páginas da Internet que "alertam" para o risco da utilização de xampus contendo lauril sulfato são mantidas por empresas que vendem produtos cosméticos alternativos.
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